"A educação é uma coisa admirável, mas é bom recordar que nada do que vale a pena saber pode ser ensinado". Oscar Wilde

"Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina"

Cora Coralina


♥ ARTIGOS SOBRE EDUCAÇAO, ARTE E CULTURA ♥


CURRICULO
          O currículo educacional é formado por conteúdos temáticos de cada disciplina, são conteúdos sistematizados que devem ser trabalhados pelo docente durante todo o ano letivo. Porém, há outros tipos de conteúdos que estão inseridos de forma oculta no currículo, Pedro Demo (2010) denomina esses currículos de não-formal e oculto, que surgem de acordo com a necessidade educacional. Nesse contexto podemos incluir as novas tecnologias. Acredita-se que o currículo escolar pode ser desenvolvido com um olhar mais atual, buscando incorporar em suas diretrizes as novas tecnologias, que contribuirão as novas perspectivas da educação que é estimular uma nova forma de ensinar e de aprender, buscando sempre uma aprendizagem que tenha sentido à vida do aluno.

          Porém, para integrar os meios tecnológicos no ensino e aprendizagem é importante que o professor conheça e compreenda as especificidades das mesmas e saiba manuseá-las, a fim de poder integrá-las em sua prática pedagógica, de acordo com suas necessidades.

          Para que o uso das tecnologias na educação tenha uma contribuição significativa na aprendizagem do aluno é imprescindível que se busque integrá-las ao currículo de forma clara e precisa. O trabalho com o desenvolvimento de projetos é uma forma eficaz de incluir as diferentes tecnologias no conteúdo do currículo escolar, pois o trabalho com projeto tem uma perspectiva construtivista, onde os alunos aprendem fazendo, o aluno faz parte da construção do conhecimento.

Susie Barreto



"QUEM SOU COMO PROFESSOR E COMO APRENDIZ"

          A aprendizagem na sociedade atual tornou-se muito mais ampla e diversificada. A escola não é mais o centro formal de aprendizagem e nem a fonte total de conhecimento, existe hoje muitas formas de se aprender e também de ensinar. Nesse sentido, podemos destacar a informatização do conhecimento. O professor precisa ter acesso, apropiar-se e ter domínio dessas novas fontes de conhecimento a fim de poder ser um disseminador e orientador das mesmas entre os alunos. O docente precisa capacitar os alunos para que tenham acesso a essa informação e que sejam criteriosos na busca e no uso dessas informações para que tenham um significado positivo de vida.

          Para que possa haver um ensino aprendizagem eficaz utilizando a informatização de conhecimento é preciso que professores e alunos estejam abertos e propensos a assimilar essa nova forma de aprender.

          Creio que o professor nunca deixa de ser aluno, o professor tem a necessidade de estar sempre se capacitando, e para isso, é importante que ele esteja fazendo cursos e pesquisando. Segundo Freire (1998) “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”

          Acredito que ensinar provém muitas indagações que provocam no docente a necessidade de estar pesquisando atualizações e inovações em sua área de atuação. Essa busca levará a reflexão e consequentemente a intervenções do professor na sua pratica pedagógica. A aprendizagem do professor não deve ser estática, parada no tempo. A formação não fecha em si, há muito caminho pela frente na difícil tarefa de ser professor, que deve ser antenado com as evoluções em sua área e preocupado com a qualidade dos conteúdos que ministra em sua prática em sala de aula. Ao lidarmos com a prática, percebemos a necessidade de termos métodos, conhecimentos e procedimentos, portanto, a formação demanda continuidade e atualização.

          Percebo que quanto mais o docente se atualiza e se apropria de um novo conhecimento, melhor educador ele passa a ser, pois se apropria de procedimentos e estratégias dinâmicas e atualizadas que vão contribuir com uma prática pedagógica mais eficaz para aprendizagem significativa do aluno. 

Susie Barreto



"O USO DAS TECNOLOGIAS NOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM"

          A Tecnologia é sempre um assunto fascinante e envolvente, porque é impressionante as possibilidades e contribuições que elas propiciam à vida pessoal e social do individuo, assim como, da sociedade em geral. 

          As tecnologias são importantes e interessantes sim, porém, não devemos deixar-nos aprisionar por elas. Sabemos que elas representam sim uma nova forma evolutiva de fazer determinadas coisas, facilitando, melhorando e aprimorando-as. Portanto, não devem ser usadas apenas como elementos de transmissão de informações ou de comunicação, mas sim, como um meio de contribuição à construção do conhecimento. Nesse sentido, pode ser de grande valia a prática pedagógica do professor.

          Os educadores não devem ficar alheios às novas tecnologias, elas foram criadas para serem usadas. Portanto, os docentes não devem ficar presos à práticas pedagógicas ultrapassadas ou estagnadas, se há uma ferramenta que pode contribuir para uma atuação profissional mais inovadora, mais dinâmica, por que não utilizar? Não digo que o professor deva mudar sua pratica pedagógica em função das tecnologias, mas sim saber incorporá-las em sua atuação. È claro que, é preciso ter consciência e maturidade para saber usá-las e saber o que pode e deve ser extraído delas que possa contribuir de forma positiva para a aprendizagem do aluno.

          Porém, o docente não pode ficar refém das tecnologias, mas sim, utilizá-las da melhor forma possível em seu dia a dia como professor, porque independente da grandiosidade de qualquer nova tecnologia, o professor nunca será colocado em segundo plano, pois nada se aprende se não houver quem ensine, e o professor é a pessoa mais capacitada para distinguir e selecionar os conteúdos necessários e significativos para a formação do aluno enquanto ser individual e social.

          Para o aluno, ter uma aprendizagem que o permita também estar antenado as inovações e evoluções tecnologias é estimulador, pois são elementos que fazem parte de sua vivência, de sua era.
Susie Barreto

Hipertexto

          Segundo a Wikipédia, a enciclopédia livre, hipertexto é “o termo que remete a um texto em formato digital, ao qual agrega-se outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas denominadas hiperlinks, ou simplesmente links”. Considerando a conceituação do termo pela wikipédia, hipetexto é um texto digitalizado que permite incorporar imagens, palavras, sons e outros. Esses textos podem ser acessados através de links que podem ser icones gráficos ou imagens.

          Os links possibilitam fazer uma conexão do texto com outras informações que podem explicar melhor a idéia do texto principal. Essas informações, como já foi dito, podem ser expressadas em sons, palavras e imagens. Geralmente, os links levam a informações contidas em outras páginas.

          O hipertexto tem caracteristicas bem peculiares que permitem o acesso a informação de forma precisa, rápida e dinâmica. Nesse sentido, o hipertexto pode ser uma ferramenta muito útil na prática pedagógica do professor. Segundo o texto do artigo “O trabalho com hipertexto pode impulsionar o aluno à pesquisa e à produção textual” (Wikipédia, a enciclopédia livre).

          Acredita-se que através desse recurso o docente pode motivar os alunos a pesquisa, a leitura e a produção de texto, pois através da busca, da descoberta, o aluno vai aprendendo e acaba construindo o próprio conhecimento.

          As fontes de busca são inesgotáveis e isso permite ao aluno uma busca constante e continua de informações aumentando gradativamente seus conhecimentos, sua visão de mundo e de vida. Além disso, é uma forma de acesso e de inserir o aluno no mundo digital, no mundo da internet.

Susie Barreto



A importância das raízes culturais para a identidade cultural do individuo
 Susie Barreto da Silva. susiebarreto@hotmail.com
Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. rcleiamendes@yahoo.com.br

Resumo. Este artigo é parte integrante da dissertação de mestrado em educação-investigação educativa e, tem como objetivo apresentar a importância de se conhecer e preservar na memória as raízes culturais regionais. O propósito é de fomentar uma reflexão sobre a importância das raízes culturais de um povo, no sentido da afirmação de sua identidade e pertinência a sua região, nesse sentido, é primordial ter conhecimento e manter viva na memória as próprias origens.
Palavras-chave: Cultura; Raízes culturais; Identidade cultural;
          Conceituar cultura não é uma tarefa fácil, cada individuo apresenta uma forma de definição da cultura, Arias (2002, p. 103) descreve o conceito de cultura como:

“… una construcción específicamente humana que se expresa a través de todos esos universos simbólicos y de sentido socialmente compartidos, que le ha permitido a una sociedad llegar a “ser” todo lo que se ha construido como pueblo y sobre el que se construye un referente discursivo de pertenencia y de diferencia: la identidad”

          O autor afirma que cultura é uma expressão da construção humana. A cultura é construída através do diálogo entre as pessoas no dia a dia. Nessa interação social é construído gradativamente símbolos e significados que tem sentido a essas pessoas, e são compartilhados entre elas. A construção de uma cultura está repleta de elementos e significados que vão identificar esse povo como pertencente a uma determinada comunidade ou região, diferenciando-os de outras comunidades, surge assim, a identidade cultural.

          O entendimento do significado de cultura subsidiará a compreensão das raízes culturais. Quando nos referimos às raízes culturais estamos nos referindo à sua origem, principio, ou seja, a forma como foi construída a cultura de um povo, o que determina que alguns elementos ou algumas manifestações culturais sejam considerados tipicamente desse povo. Não temos a pretensão de nos aprofundar em questões sociológicas. O propósito de enfocar as raízes culturais nesse artigo está direcionado a questão da memória cultural do povo. Não é um trabalho arqueológico, não se pretende escavar o “passado”, mas sim, de se manter viva a história da construção ou da criação da cultura de um povo ou de uma região.

          É possível dizer que não se vive do passado, se vive do presente e do futuro. Porém, para se compreender as transformações pelas quais a cultura de um povo tem passado no decorrer dos tempos, se faz necessário conhecer como era antes no inicio de sua construção. Há de se estabelecer parâmetros para se poder definir em que aspectos a cultura foi transformada e em que grau.

         Acredita-se que, não se deve pregar o isolamento cultural, se fechando em guetos. O individuo deve estar aberto e receptivel ao novo. Deve-se conhecer e experimentar as outras culturas como forma de valorizar a diversidade cultural dos povos e como enriquecimento cultural.

          Supõe-se que, para conhecer e assimilar a história da construção da cultura de outros povos, deve-se primeiro conhecer a história da própria cultura, saber como se deu essa construção e como foi o processo de evolução e desenvolvimento da mesma. Só assim, pode-se conhecer e entender outras culturas. Conhecendo a própria cultura, o individuo compreenderá a importancia de mante-la viva na memoria, protege-la e valorizar a cultura como forma de preservar o que somos, nossas caracteristicas, nossa identidade. Segundo Barros (2008). “proteger não significa defender o isolamento ou o fechamento ao diálogo com outras culturas, mas sim encontrar meios de promover a sua própria cultura”.

          Pedroso (l999) afirma que. “Um povo que não tem raízes acaba se perdendo no meio da multidão. São exatamente nossas raízes culturais, familiares, sociais, que nos distinguem dos demais e nos dão uma identidade de povo, de nação”. Percebe-se a importância de se conhecer as raízes da própria cultura para que haja a formação de identidade, no propósito de se definir enquanto cidadão sabendo situar-se na sociedade. 

          Entende-se que, para a assimilação da relevância desse conhecimento há de se ressaltar a construção histórica da cultura de um povo. Segundo Arias (2002, p.9):

          “La cultura no es algo dado, uma herencia biológica, sino uma construcción social e históricamente situada, em consecuencia es um producto histórico concreto, uma construcción que se inserta em la história y especificamente em la história de las inter-acciones que los diversos grupos sociales establecen entre si”

         Pelo exposto acima, se entende que a cultura é construída a partir das ações e inter-relações sociais. As pessoas fazendo parte de uma sociedade acabam interagindo umas com as outras, trocando idéias, conhecimentos e etc, desse relacionamento deriva a cultura desse povo, que foi construída passo a passo. Juntos, constroem uma história de vida, onde os hábitos e costumes, manifestações, expressões, sentimentos e outros estão inseridos, identificando cada componente dessa sociedade determinando o seu modo de viver e de ser.

           Portanto, acredita-se que: se as pessoas têm conhecimento de suas próprias raízes e conscientemente sabem da relevância das mesmas para suas vidas, passarão a valorizar esse conhecimento transmitindo-o para as gerações futuras, isso evitará que sejam esquecidas ou adormecidas. Dessa forma, a memória do povo continuará sendo “aquecida”.

           Abaixo outra citação do autor Pedroso (l999), que enfatiza melhor a importância de se conhecer as próprias raízes.
“Quem não vive as próprias raízes não tem sentido de vida. O futuro nasce do passado, que não deve ser cultuado como mera recordação e sim ser usado para o crescimento no presente, em direção ao futuro. Nós não precisamos ser conservadores, nem devemos estar presos ao passado. Mas precisamos ser legítimos e só as raízes nos dão legitimidade”.

         Entende-se nessa citação que a vida tem sentido, em se tratando de identidade cultural, quando conhecemos nossas raízes, de onde viemos, quem somos e como somos. É preciso conhecer o inicio de tudo para entendermos as mudanças culturais que ocorrem no presente e que ocorrerão no futuro.

O trecho, abaixo, retirado de uma reportagem realizada no Distrito de Ribeirão Pequeno enfatiza um projeto sobre memória cultural que tem sido desenvolvido em uma escola.
“....incluem em seus programas de história, geografia, língua portuguesa e artes temas relacionados ao patrimônio e à memória locais. O resultado comum dos projetos é um aluno mais interessado e motivado. A longo prazo, vem a mudança da mentalidade e a formação de um cidadão sensibilizado para com suas raízes e identidades culturais”
Na realização desse projeto já se percebe a preocupação em introduzir nas escolas temas que visem trabalhar questões relacionadas ao patrimônio e a memória local. O resultado final desse projeto, pelo que se percebe foi muito satisfatório e gratificante, pois conseguiu atingir os alunos em aspectos muito importantes como no interesse e motivação, já é um ponto inicial para que com a continuação desse trabalho mais alunos tenham uma mudança de mentalidade em relação às próprias raízes e a própria identidade cultural. Que o mesmo possa ser um disseminador dessa idéia para toda a comunidade escolar.
Para enfatizar melhor a importância da memória cultural do povo, podemos citar uma declaração muito interessante, encontrada em um site paraense, que fala sobre o texto de uma peça de teatro escrita por um grupo de alunos sobre a cultura regional local.
Foi gratificante ver jovens se preocupando com o futuro da nossa cultura e com a memória de nosso povo, o nosso maior patrimônio, com a natureza, enfim..., e o mais importante, nos ensinando a termos orgulho de nossas raízes, cores, sabores, crenças..., nos mostrando que o único e tenaz caminho é assumir, disseminar e manter cada vez mais nossas origens, para que só assim o mundo nos relacionem com respeito e admiração.
Percebe-se nessa declaração, que o texto teatral apresentado foi bem escrito, que enfoca com bastante propriedade o orgulho desses jovens com suas raízes culturais e o mais importante de tudo, a preocupação dos mesmos com o futuro de nossa cultura e a memória de nosso povo.
É importante ressaltar que no contexto da comunicação também há outras formas de aprendizagem da cultura. O ensino escolar é apenas uma parte onde ocorre a aprendizagem cultural do aluno. A escola tem uma contribuição bem especifica nessa aprendizagem, pois é na escola que o aluno vivência diariamente a diversidade cultural, no contato com professores, colegas e outros. Por ser um assunto tão complexo a forma de aprendizagem se faz de maneira formal e informal. Quando o aluno vem para o ambiente escolar já traz consigo informações, vivências e experiências culturais que segundo Vigotsky não podem ser desprezados, mas trabalhadas para que haja assimilação e entendimento das mesmas pelos alunos
A partir dessas considerações, acredita-se, que é um tema relevante que pode levantar reflexões e discussões que possam vir a contribuir com o despertar da consciência coletiva sobre a importância das raízes culturais. O resgate as raízes culturais de uma região poderá despertar no individuo a motivação e o interesse sobre a sua própria cultura, tornando-o um cidadão mais sensível e consciente da importância de suas raízes para preservação de sua história. 


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.


ARIAS, P. G. (2002). La cultura. Estrategias Conceptuales para comprender a identidad, la diversidad, la alteridad y la diferencia. Escuela de Antropologia Aplicada UPS-Quito. Ediciones Abya-yala.

COELHO. T. (1997). Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. São Paulo Iluminuras.

JUNIOR, E. R. O resgate e a valorização do patrimônio cultural do município de Santa Maria – RS. IX Cidade revelada – Encontro sobre Patrimônio cultural. I Fórum Nacional de Conselhos de Patrimônio Cultural. Itajai-Santa Catarina-Brasil.

PHYLLIS, YORK, D. (2007)Tough love Primeiro princípio do Amor Exigente - Raízes Culturais. Traduzido por Pe. Haroldo e reescrito por D.Mara. Lucila Costa – Coordenadora Regional de Amor-Exigente.

Reportagem: Projetos atingem as escolas. "Memória cultural da comunidade do distrito de Ribeirão Pequeno”. 2006

REIS, L. C. L. - graduando em história pela UFPa - Japoneses em Santa Izabel do Pará e a formação de uma nova identidade cultural – IV simpósio nacional estado e poder: intelectuais. 2007.

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Susie Barreto da Silva. Licenciatura Plena em Educação Artística - Habilitação em música (UEPa) - Especialização em Educação Musical (CBM), Mestrado em Educação (UCA). Doutorado em ciências da educação (UAA) (em andamento). Professora efetiva da Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC).
susiebarreto@hotmail.com susalisboa@yahoo.com
http://lattes.cnpq.br/8363559126278470


Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. Licenciatura Plena em Educação Artística – Habilitação em Música (UEPa)- Especialização em Informática na Educação (PUC-MG). Mestrado em Educação (UCA). Doutorado em ciências da educação (UAA) (em andamento). Professora efetiva da Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC).
rcleiamendes@yahoo.com.br



Contextualizando e definindo cultura

Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. rcleiamendes@yahoo.com.br
Susie Barreto da Silva. susiebarreto@hotmail.com


Fala-se muito de cultura, mas nem todos sabem exatamente do que estão falando. Uma definição exata e definitiva seria muito difícil de obter, pois depende de alguns fatores, como: a visão sociológica, antropológica, filosófica, além do sentido que se quer da à cultura. É importante conhecer as definições de cultura, pois é através de nossa cultura que conhecemos nosso passado. Conhecer e entender esse passado dará a significação e a afirmação de nossa identidade cultural. A partir do entendimento de cultura teremos um caminho para conhecer e assimilar nossa história cultural.

Os conceitos sobre cultura são numerosos. e divergem em alguns pontos. Buscaremos algumas definições com uma finalidade meramente instrumental.

Para Coelho (1997, p.54) “Em su acepción más amplia, cultura nos remite a La idea de una forma que caracteriza al modo de vida de uma comunidad em su dimensión global, totalizante”. Em sua concepção Teixeira Coelho define cultura como tudo que faz parte totalmente da forma de vida de uma comunidade, estão inseridos nesse contexto: hábitos, costumes, valores, principios, manifestações e expressões culturais, dentre outros.

Arias (2002, p. 86) “La cultura es una forma de ser y hacer mediante la cual un pueblo construye los significantes, significaciones y sentidos de una forma de identidad propia, que lo distingue y diferencia de otros”. Para o autor, cultura é a construção social de significados que vão determinar o modo de vida das pessoas, identificando-os e distinguindo-os de outros.

Sonia Rodrigues (2008, p. 01), define cultura como “uma forma particular de ser, de estar, de viver e de sentir o mundo, onde está inserido uma somatória de costumes, tradições e valores”. Segundo a autora cultura é a forma própria de se viver o dia-a-dia revestido de uma identidade bem particular de costumes, tradições e valores

Para Barros (.2008, p. 20), “a cultura engloba os aspectos que definem a identidade de uma pessoa, dos grupos e das sociedades como valores, percepções, imagens, formas de expressão, comunicação”. O autor define cultura como algo ligado mais as interações e integrações sociais como os valores aprendidos, a forma como as pessoas de expressão e como elas se comunicam entre si.

Para Amélia Hanze, cultura é:

(... )”a vivência histórica de significados que um grupo conjuga e com o qual distingue seus componentes, as linguagens com as quais se manifestam os indicadores e as técnicas significativas, os valores, a fé e o gosto com os quais se coligam e a história que coletivamente constroem”.

A autora afirma que cultura é a construção histórica de significados, de técnicas, de valores e etc, construídos coletivamente.

Suzana Carmo (2005, p. 01) define cultura como: “o conjunto dos traços característicos do modo de vida de uma sociedade, de uma comunidade ou de um grupo, aí compreendidos os aspectos que se podem considerar como os mais cotidianos, os mais triviais ou os mais "inconfessáveis". Para Carmo cultura é algo bem particular de cada individuo dentro de uma sociedade, são aspectos que ocorrem diariamente e outros são bem internalizados.

Célio Turino (2006) a define como “uma composição de coisas, um pouco de entretenimento, de Belas Artes, de alta cultura, erudita, hermética, como também, a história, costumes, condutas, desejos, reflexões”. Para Turino cultura representa uma junção de coisas que vai desde uma visão clássica da cultura até uma mais popular como os desejos e a forma de se comportar.

Cool (2002) apud Silva concebe a cultura como:

“O conjunto de crenças, mitos, conhecimentos, instituições e práticas por meio dos quais uma sociedade afirma sua presença no mundo e garante sua reprodução e permanência no tempo. Ou seja, é um modo de vida que abrange toda a realidade existencial das pessoas e comunidades de uma sociedade, e não apenas as artes, o folclore e as crenças”

Para o autor, cultura é tudo que faz parte da existência da pessoa e asseguram sua existência e permanência na sociedade.

Como podemos notar há uma infinidade de definições da palavra cultura, onde os autores discordância em alguns pontos.

Para fechar a conceituação sobre cultura é relevante e interessante inserir uma citação de Teixeira Coelho (1997) sobre Memória Cultural. “No hay um tiempo presente que no se integre o no se relacione com um tiempo pasado, y viceversa....”La memoria no es uma faculdad pasiva sino um principio de organización – y de organización del todo, frecuentemente a partir de um pequeno fragmento de lo vivido...” Segundo o autor, em geral, tudo o que acontece nos tempos atuais tem uma relação com fatos do passado. Os fatos não surgem do nada, há um começo para tudo. Em se tratando de cultura, acontece o mesmo. A história da cultura de um povo tem toda uma trajetória em sua construção e o inicio dessa edificação, assim como, todo o seu percurso até o presente deve estar vivo na memória do povo

Para uma melhor assimilação sobre cultura algumas considerações básicas se fazem necessário.

Pode-se notar que cultura é uma palavra multidiscursiva, podendo ser usada em várias falas diferentes. O uso da palavra depende do contexto discursivo. É impossível encontrar uma definição válida que sirva para todas as ocasiões. Em alguns usos da palavra ela aparece de forma clara como: cultura jovem, cultura da classe trabalhadora, cultura intelectual, cultura bacteriana, agricultura etc. Cultura, no sentido de cultivar a terra, semear, etc. Cultura, no sentido de quem tem conhecimento, que é culto. Ela é usada em vários sentidos, e o sentido que se usa em um contexto pode não servir a outro.

Há dois sentidos da palavra cultura que podem ser destacados: o sentido popular, o antropológico e o sociológico. Num sentido popular a palavra cultura é utilizada para designar pessoas que possuem conhecimento, intelectualmente desenvolvidas. No sentido antropológico e sociológico a palavra cultura é utilizada para designar o comportamento social de um grupo.

A cultura são padrões estabelecidos dentro de uma sociedade. Desde a tenra idade a criança já sofre influência do lugar onde nasce, através do contato com a família, com a comunidade, com a escola etc e, vai assumindo e integrando, à medida que vai crescendo, os hábitos e costumes de sua região ao seu modo de ser, de estar e de viver. Passa a agir de acordo com o que é normal e constante no local em que vive, passando a agir e atuar conforme os padrões que foram estabelecidos dentro daquela sociedade, ou seja, de acordo com a cultura daquela sociedade. (Enciclopédia Barsa, 1972)

A cultura é um produto humano, somente o homem tem a capacidade de criá-la, produzi-la e transmiti-la. Os elementos que compõem a cultura são interdependentes, mas se inter-relacionam de forma harmoniosa na sociedade. São elementos como: as idéias, os hábitos, as técnicas, os costumes etc.

A cultura é recebida como herança ao nascer e também é adquirida na integração e interação com pessoas de outras regiões. A partir do momento que o homem passa a ampliar seus horizontes, tendo contato com a cultura de outras regiões, com hábitos e costumes diferentes do seu, ele passa a adquirir e incorporar ao seu modo de vida alguns desses hábitos, costumes, ou modo de agir. Assim como, pode também transmitir um pouco de sua cultura à cultura dessa outra região. É uma troca mútua de valores culturais, que é chamada de transculturação. (Enciclopédia Barsa,1972)

Podemos considerar então, que a cultura não é estática dentro do grupo, ela é dinâmica. De forma contínua, ela se desenvolve se aperfeiçoa, se modifica. É a própria sociedade que faz com que a cultura seja dinâmica, através de novas criações e do que é adquirido de outros grupos sociais.

Pode-se destacar alguns aspectos em relação à cultura: a cultura se aprende, através dos meios de transmissão, onde podemos constatar a aprendizagem da cultura, ou seja, na família, na escola, com os professores, na igreja e outros; a cultura deriva de componentes da existência humana, ou seja, são elementos que colaboram para formar a cultura dentro de uma sociedade, são diversos os elementos como por exemplo: os ambientais, os psicológicos, sociológicos, históricos, etc; a cultura é estruturada, pois é composta de diversos valores que são estruturados dando-lhe estabilidade frente a possíveis mudanças; a cultura é formada de elementos que dão forma a cultura caracterizando-a, por exemplo: a organização social, a língua usada, as idéias religiosas, o sistema de ensino etc; a cultura é dinâmica pois vive em constante aperfeiçoamento, modificação etc; a cultura é variável porque os elementos da cultura não são iguais em todas as sociedades; a cultura é cumulativa pois contém elementos vindos dos antepassados e elementos novos que se incorporam a esses; a cultura é contínua vive se modificando mas não quebra a sua permanência na sociedade de origem; a cultura é um instrumento de adequação do homem ao ambiente, ou seja, o homem se integra ao meio em que vive através dos valores culturais. (Enciclopédia Barsa, 1972)

A cultura é importante na vida do ser humano, ela vem para formar a identidade pessoal e social do individuo. O homem fazendo parte de uma comunidade, sabendo o seu lugar, o seu espaço, as suas origens, estando integrado e interagindo em seu ambiente, sente-se inserido e fazendo parte da sociedade. A cultura de uma sociedade para que ela se perpetue, não adianta apenas ter lembrança dos fatos históricos, mas ela deve ser mantida viva, constante. A identidade cultural dos individuos depende de se manter vivo o patrimônio cultural e social.

A cultura é reconhecida como elemento significativo e importante para a construção da identidade do jovem. Por meio de experiências de integração e interação o jovem compartilha seus valores, projetos, crenças, idéias etc.

Como foi dito anteriormente a definição da palavra cultura depende da significação que se dá a ela. No sentido que se deseja enfatizar aqui, cultura são as características que determinam e distinguem os hábitos e costumes de um povo, de uma região, de uma comunidade, e que são passados de uma geração a outra para que não se perca. Hábitos e costumes no que se refere a: culinária, como as comidas típicas da região, assim como as frutas; as músicas e danças, os cultos religiosos; o linguajar; as lendas e mitos; as formas de subsistência da comunidade; e a própria história da região.

Há muito que se ler e refletir sobre as diversas formas de se conceituar cultura, o importante é que seja um assunto discutido, refletido e que esteja sempre presente nos debates educacionais.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.


ARIAS, P. G. (2002). La cultura. Estrategias Conceptuales para comprender a identidad, la diversidad, la alteridad y la diferencia. Escuela de Antropologia Aplicada UPS-Quito. Ediciones Abya-yala.

COELHO. T. (1997). Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. São Paulo Iluminuras.

CARMO, S. J. O. (2005). A cultura e o Estado Democrático de Direito. http://www.direitonet.com.br/artigos/x/21/92/2192/

Enciclopédia BARSA. Volume 5.Enciclopédia Britânica editores Ltda. Rio de Janeiro, São Paulo.

HAMZE, A /professora da FEB/CETEC/FISO. http://www.educador.brasilescola.com/trabalho- docente/cultura-educacao.htm

TURINO, C. Uma gestão cultural transformadora. Proposta para uma Política Pública de Cultura

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Susie Barreto da Silva. Licenciatura Plena em Educação Artística - Habilitação em música (UEPa) - Especialização em Educação Musical (CBM), Mestrado em Educação (UCA). Doutorado em ciências da educação (UAA) (em andamento). Professora efetiva da Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC).
susiebarreto@hotmail.com susalisboa@yahoo.com
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Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. Licenciatura Plena em Educação Artística – Habilitação em Música (UEPa)- Especialização em Informática na Educação (PUC-MG). Mestrado em Educação (UCA). Doutorado em ciências da educação (UAA) (em andamento). Professora efetiva da Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC).
rcleiamendes@yahoo.com.br




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A que nos referimos quando falamos de “raízes culturais” em geral? 
Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. rcleiamendes@yahoo.com.br      Susie Barreto da Silva. susiebarreto@hotmail.com

Resumo

O propósito desse artigo é tentar definir o termo “raízes culturais”, com o objetivo de mostrar dois aspectos que são relevantes para a preservação das raízes culturais dos povos que são: a identidade cultural e a memória cultural.

Palavras chaves: Cultura; raízes culturais; identidade cultural; memória cultural.


Segundo o dicionário Larousse raízes tem a“(...) função de fixação, de absorção; base....principio, origem,...algo que prende, vinculo, elo. E cultura (...) é o conjunto de conhecimentos adquiridos, instrução, saber”, em relação a cultura encontramos no mesmo dicionário que é um: “conjunto de valores, símbolos e rituais praticados por uma organização. (...) conjunto de conhecimentos adquiridos, instrução, saber”. Portanto, com base nessas citações pode-se afirmar que raízes culturais é o alicerce, a base, dos conhecimentos construídos e adquiridos e praticados por um povo, ou seja, o principio, a origem, algo que produz um vínculo inicial, representando o nascimento de um elemento da cultura de um povo.

Quando nos referimos ao termo raízes culturais estamos nos referindo à história da construção dos elementos culturais ou das manifestações culturais de uma região. Podemos considerar que as raízes culturais são à base de tudo, o alicerce de uma cultura. São os tijolos da construção histórica cultural de um povo.

É fundamental que as pessoas conheçam o marco inicial dos elementos de sua cultura, pois os elementos culturais se apresentam inicialmente de uma forma bem definida, com o tempo e devido ao desenvolvimento e evolução da cultura, esses elementos sofrem modificações.

Partindo do principio que tudo tem um começo, um inicio e, para que esse começo não seja esquecido, é necessário que esse conhecimento seja resgatado e preservado na memória do povo, para que os mesmos, possam a partir dessa base assimilar as mudanças do presente e as que ocorrerão no futuro. Acredita-se que, para entendermos o presente devemos conhecer o passado.

Supõe-se que não é possível compreendermos as transformações, o desenvolvimento, as mutações da cultura se não conhecemos o ponto de partida. Podemos citar como exemplo o carimbó, que é uma dança típica paraense, que inicialmente se apresentava com uma forma bem definida, com o tempo passou por muitas alterações. O carimbó hoje é bem diferente do que ela no passado sofreu modificações com o tempo, evoluindo para um carimbo mais moderno, com novas roupas, com mais passos de dança e, à música original foram acrescentados novas batidas e instrumentos musicais. Hoje, há no Pará dois tipos distintos de carimbó, um que defende uma prática do carimbo tradicional, enquanto outro, a prática de um carimbo moderno, como afirma Amaral (2005, p.81):

“A continuidade do carimbo como movimento musical que identifica o Pará depende de uma articulação entre tradição e a modernidade, traduzida na idéia do seu reprocessamento, ou seja, enquanto a primeira lhe confere, em qualquer tempo, a autoridade de pertencer ao povo, a última o re-adapta às condições da atualidade”.

As transformações ocorridas no carimbó de raiz são salutares e benéficas, porque demonstra que a cultura do Pará não está inerte, pelo contrário, tem evoluído e se desenvolvido, paralelamente ao desenvolvimento social e histórico do Estado. Todavia, se o conhecimento sobre a formação original do carimbó não for transmitido às futuras gerações, para que possam assimilar todo o processo de evolução do carimbo até os dias atuais, esse conhecimento poderá ser perdido com o tempo. É um conhecimento que faz parte da História cultura do Pará, é relevante que esteja na memória do povo.

Em se tratando de raízes culturais, dois fatores são muito importantes focalizar para a compreensão da necessidade de se manter viva as raízes culturais dos povos: a identidade cultural e a memória cultural.

Identidade segundo o dicionário Larousse é “(...) característica, caráter permanente e fundamental que distingui um individuo ou grupo de outros” Portanto, identidade são os atributos de uma pessoa, ou seja, suas atitudes, estilo, costumes que o distingui, definindo-o entre os demais indivíduos. São essas características que identificam um individuo dentro de uma sociedade. Para Arias 2002, p. 103) “La identidad, por tanto, es una construcción discursiva…” Com base nesses conceitos podemos dizer que identidade é como nos somos, é a definição de onde pertencemos, o que nos diferencia de outros, como nos situamos, como nos identificamos, ou seja, quem somos. Nesse sentido, estamos nos referido ao que somos como pessoa, o que define nossas atitudes, comportamentos, nosso falar, o que gostamos de comer, de vestir e outros. O homem em sua vivência diária, desde o seu nascimento até a fase adulta, vai incorporando, aprendendo, assimilando a cultura de sua comunidade, de seu povo, acaba assumindo características culturais próprias, e essas peculiaridades que vão defini-lo em relação à outra comunidade, a outro povo. Esse conhecimento e definição vêm de nossa cultura, de nossas raízes, pois são elas que determinam o que somos.

Toda identidade tem um ponto inicial, ela vai sendo construida gradativamente, a partir de indagações sobre “quem sou eu”, para Arias (2002, p. 103) “Todo proceso de construcción de la identidad se inicia con la necesidad de autorreflexión sobre sí mismo, la mismidad que hace referencia a la imagen o representación de un “sí mismo”, que nos permite decir “yo soy” esto o “nosotros somos”. Essa reflexão sobre a representação de si mesmo é que permite ao homem situar-se e definir-se como pertencente a esta ou aquela região.

Sabe-se que a identidade não é algo fixo, Arias (2002, p. 103) afirma que: “La identidad solo podrá ser construida en las representaciones e interacciones que se teje con los otros; de ahí que la identidad no sea algo fijo, sino algo que se construye y reconstruye en el proceso de las interacciones sociales”. Segundo o autor não há uma identidade imutável, as pessoas tem sua identidade cultural própria da identificação com suas raízes, porém, essa identidade pode ser construída e reconstruída, pois a partir da comunicação entre as pessoas e da interação que há entre elas, é possível assumir ou incorporar elementos culturais do outro, passando a identifica-se com eles.

Quando o autor Teixeira Coelho diz “Nenhuma identidade é fixa, estável e perene. Toda identidade, como toda cultura, está em constante mutação, dissolvendo-se e liquefazendo-se para se recompor e refazer em seguida sob aparência pouco ou muito diferente.”, ele está se referindo a questão das interações culturais, que faz com que a cultura de uma comunidade acabe sendo inserida ou participando da cultura de outra comunidade e vice-versa, com isso, o individuo acaba adquirindo ou incorporando outra identidade. Porém, nesse sentido, o individuo precisa entender as mudanças pelas quais vai passando e esse entendimento a de vir do conhecimento das suas raízes culturais. Para compreender precisa saber como era no inicio e como foi se transformando, e quais foram às etapas dessa evolução ou transformação. Desvendar a vida faz parte do desenvolvimento humano Todo o individuo tem a necessidade de se conhecer, para saber quem é, e qual o seu papel na vida e na sociedade.

Outro fator importante para se preservar as raízes culturais é a memória. Segundo o dicionário Larousse, “memória é a atividade biológica e psíquica que permite reter as experiências anteriormente vividas. Lembrança, recordação”. Portanto, memória é o ato de guardar permanentemente na mente fatos, situações, vivências e etc, que ocorreram no decorrer de nossa existência.

Essa definição se aplica também a memória cultural, pois o individuo em contato com sua família, com a comunidade em que vive (vizinhos, colegas de bate papo e outros), com seus grupos de relacionamento (colegas de trabalho, igreja, centro comunitário e outros), passa a interagir com eles, e nessa relação ele passa a aprender, a experimentar e vivenciar as particularidades desse processo de inter-relação. É esse processo de inter-relação que vai lhe proporcionar toda a sua bagagem cultural, a qual ficará retida em sua memória.

Acredita-se que, na preservação das raízes culturais a memória é imprescindível, as pessoas precisam ter viva na mente toda à cultura inicial de seu povo. É importante não somente conhecer a cultura de sua região, mas também, conhecer como essa cultura começou, que povos contribuíram na formação dessa cultura, como ela se apresentava inicialmente, quais eram as características peculiares iniciais dessa cultura. São pontos relevantes e necessários ao conhecimento do ser humano na formação de sua identidade cultural.

Segundo (Haigert apud Rouston 2005, p. 102), a memória é importante, pois representa:

“O suporte fundamental da identidade é a memória, mecanismo de retenção de informação, conhecimento, experiências, quer em nível individual, quer social, e por isso mesmo, eixo de atribuições, que articula, categoriza os aspectos multiformes de realidade, (...), A ‘construção’ da memória, por sua vez, está diretamente relacionada ao sentimento de identidade..”.

Rouston afirma que a memória é o que sustenta a identidade de um individuo, pois é ela que guarda todas as informações pessoais, sociais e coletivas relacionados à suas raízes. Ainda segundo o autor, “Sem memória, não há identidade, desaparece a cultura e destrói-se a consciência coletiva. É esta memória e esta identidade que constituem o patrimônio de uma coletividade”. Portanto, identidade e memória estão essencialmente ligadas, um depende do outro para a continuação e evolução da cultura. É a identidade cultural e a memória que asseguram nosso patrimônio cultural, que representa tudo o que fomos, o que somos, o que temos e o que teremos amanhã.

Percebe-se a relevância desses dois termos identidade cultural e memória cultural na preservação das raízes culturais dos povos. Preservar no sentido de manter viva na memória a história cultural de um povo. Preservar no sentido da importância de transmissão desse conhecimento as gerações futuras. Preservar no sentido de não esquecer quem somos, de onde viemos, de nossas raízes.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.


ARIAS, P. G. (2002). La cultura. Estrategias Conceptuales para comprender a identidad, la diversidad, la alteridad y la diferencia. Escuela de Antropologia Aplicada UPS-Quito. Ediciones Abya-yala.

COELHO. T. (1997). Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. São Paulo Iluminuras. 

VIEIRA, L. B (organizadora). Costa, C. (colaborador)- 2005. Pesquisa em música e suas interfaces. Belém: EDUEPA.

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Susie Barreto da Silva. Licenciatura Plena em Educação Artística - Habilitação em música (UEPa) - Especialização em Educação Musical (CBM), Mestrado em Educação (UCA).
Doutorado em ciências da educação (UAA) (em andamento). Professora efetiva da Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC).
susiebarreto@hotmail.com susalisboa@yahoo.com


Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. Licenciatura Plena em Educação Artística – Habilitação em Música (UEPa)- Especialização em Informática na Educação (PUC-MG). Mestrado em Educação (UCA).
Doutorado em ciências da educação (UAA) (em andamento). Professora efetiva da Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC).
rcleiamendes@yahoo.com.br


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A prática da flauta doce na escola como instrumento educativo

Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. rcleiamendes@yahoo.com.br
Susie Barreto da Silva. susiebarreto@hotmail.com

Resumo. Este artigo é parte integrante da dissertação de mestrado em educação-investigação educativa e, tem como objetivo apresentar a importância da prática da flauta doce na escola como recurso na aprendizagem musical do aluno. O propósito é de fomentar uma reflexão sobre a importância das da utilização da prática da flauta doce em sala de aula como recurso na aprendizagem musical do aluno.

Palavras-chave: flauta doce; aprendizagem musical

A pratica da flauta doce na escola tem inicio no século XX com Edgar Hunt em 1935 que introduzia o ensino de flauta doce nas escolas primárias inglesas, e em 1937 foi fundada a "Society of Recorder Player". Aos poucos a flauta doce ressurgia e os compositores começaram a escrever para o instrumento. Com o aumento do número de grandes intérpretes a flauta doce se tornou um instrumento de pesquisa e técnicas alternativas de execução.

A educação musical dispõe de recursos que podem ser utilizados no auxilio musical como, por exemplo, a flauta doce, o canto, a percussão, o violão entre outros. Geralmente a flauta doce é usada como uma alternativa para a inclusão do ensino instrumental na escola, pois sabe-se que  a flauta doce é um instrumento de fácil aquisição e de custo baixo, além de, que  propiciar uma produção musical breve, devido à facilidade de aprendizagem. Essa visão de utilizar a flauta doce como forma de introduzir o instrumento musical na escola foge do objetivo que deve ser alcançado na aula de música, que é o fazer musical. Segundo Beineke (1997.p. 86)(...) “...questão que diferencia o trabalho com a flauta doce na escola é que a aula de música é o centro da proposta”. A autora afirma que o trabalho com a flauta doce nas aulas de música tem objetivos mais profundos, ou seja, a de envolver o aluno musicalmente, despertando o interesse e a motivação pelo o ouvir, o aprender e praticar a flauta doce, atingindo o fazer musical.

 Sabe-se que a flauta doce não é o único instrumento a auxiliar a educação musical, mas pode se observar que o trabalho com a mesma é diferenciado, começando com a manipulação do som a partir do manuseio e exploração da mesma resultando no fazer musical. Além disso, o ensino da flauta doce pode ser realizado com turmas de tamanho e faixa etária diversificada, o que não é possível em relação a outros instrumentos.

A flauta doce é usada universalmente nas escolas tradicionais de música no processo de musicalização dos alunos, com a finalidade de aguçar e educar a percepção auditiva dos mesmos e também como instrumento solo ou de conjunto. Nessa mesma perspectiva, Santos afirma que:

“Independente da forma ou contexto no qual acontece a educação musical, ela deverá sempre servir como elemento de expressão sociocultural, reafirmando e valorizando as características fundamentais do fenômeno musical presente nos múltiplos contextos existentes na sociedade, aproximando-se assim da realidade cultural e musical de cada grupo ou indivíduo inserido nos diferentes âmbitos culturais” (SANTOS, 2006, p. 29).<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->[1]

A autora aborda sobre a educação musical num contexto sociocultural, em que a música é um instrumento de elo na diversidade cultural, que pode conduzir o individuo a participação em grupos de culturas e hábitos diferentes, respeitando e sendo respeitado, participando de um bem comum que é a música.

Beineke em seu artigo “O ensino da flauta doce na educação fundamental” inicia dizendo que, a música é uma ação inerente da atividade humana, e sua manifestação se expressa no fazer musical, e aborda alguns sub-itens que reforçam a importância da prática da flauta doce na escola como:

-Valorização das práticas musicais dos alunos – O aluno não é um vazio a ser preenchido, ele traz de casa algum conhecimento adquirido em suas experimentações e vivências diárias com o outro. Esse conhecimento deve ser aproveitado na socialização com os outros alunos, a fim de que as diversidades culturais sejam socializadas e expandidas. Esse conhecimento será de grande valia na atividade pratica com a flauta doce, pois o aluno terá condições de sugerir músicas, ritmos, que podem ser utilizados em aula na aprendizagem.

-Priorizando a fluência musical – Deve-se levar em conta que o ato criativo do aluno permite uma aprendizagem mais significativa e positiva. Nas atividades com a flauta doce deve-se deixar fluir a capacidade musical do aluno, pois atividades repetitivas, técnicas que visem a memorização são cansativas e monótonas, não permitindo a fluidez do pensamento e a expansão cultural do aluno.

-Por uma atitude criativa perante as práticas musicais – O ato de criação permite a expressão singular e livre do aluno. È uma ação que afirma o aluno como um ser ativo e pensante dentro do processo de ensino aprendizagem da prática musical.

-A realidade do aluno e a motivação para aprender – A motivação do aluno vem ao encontro de suas necessidades, ele tem interesse em aprender coisas que venham a ter sentido em sua vida, que venham preencher alguma lacuna. Sem essa motivação, não haverá o entendimento musical, será apenas uma aprendizagem sem sentido.

-O compromisso com a diversidade – Deve-se levar em conta na aprendizagem musical que os alunos são diferentes em vários sentidos, tem desejos e interesses diversos. Há de se pensar nessa diversidade e procurar adequar as atividades aos interesses dos alunos, buscando respeitar a cultura e o conhecimento de cada um, a fim de proporcionar uma aprendizagem favorável ao desenvolvimento total do aluno.

-Dinâmicas de grupo na sala de aula – Devem-se elaborar atividades que envolvam todo o grupo, organizando as equipes de forma que sejam contempladas as potencialidades dos alunos, a fim de que um possa aprender com o outro. Em grupo os alunos terão uma experiência única, pois dessa forma já terão a noção de apresentação em público. O trabalho em grupo permite desenvolver o sentido de respeito ao fazer do próximo, ao espaço do outro, pois o bom desempenho do grupo depende da união de todos.

-Flauteando pelos cantos do Brasil:- idéias de repertorio para o ensino da flauta doce na escola – Deve-se promover uma experiência bem diversificada de conhecimentos culturais aos alunos, nesse sentido, é preciso utilizar conteúdos e temas do folclore brasileiro, folguedos, danças, ritmos populares e outros, a fim de que o aluno amplie seu universo cultural, com uma experiência rica e desafiadora.

Enfatizando esses itens a autora reforça a importância da flauta doce na escola e em especial no ensino fundamental, por ser de grande importância para o desenvolvimento pessoal, social e cultural do aluno.

Beineke ressalta que:

“A música ajuda a demarcar “territórios culturais” (Silva, 1996), identificando grupos e formas de vida. Trabalhando com adolescentes, por exemplo, pode-se observar a quantidade de rotulações que eles dão a música, como “música de criança”, “música de velho”, “música de amor”, “música de gay”, “música de igreja”, “música de dança”, “música para dormir”, entre tantas outras (...)” (Beineke (2001, p.61) apud. Bréscia)

Nesse contexto observa-se o uso da música na demarcação e caracterização de território num contexto social. Percebe-se também a diversidade em que a caracterização da música é abordada pelos adolescentes direcionando-a por segmentos de grupos. Segundo Joly “a música também é um meio de fazê-las participar das atividades de grupo e de incluir nesse grupo crianças com diferentes graus de desenvolvimento, aproveitando no grupo o potencial de cada um”. Sendo assim, pode-se dizer que a música pode agir como mediadora na inclusão social e diversidade cultural do individuo sem que ele perceba.

 Observa-se que a flauta doce é um instrumento que tem boa aceitação no contexto de grupo, onde os participantes escolhem o repertorio musical de acordo com a identidade do mesmo. Esse é um fator que deve ser observado e aproveitado nos grupos, já que o grupo tem finalidades e desejos em comum.

A prática da flauta doce nas escolas tem sido motivo de pesquisas como, por exemplo, “o ensino da flauta doce na educação fundamental: a pesquisa como instrumentalização da prática pedagógico-musical” de Viviane Beineke, além da autora mencionada outros autores tem pesquisas sobre esse como, por exemplo: Liane Hentschke e Jusamara Sousa, doutoras em educação musical.

A prática da flauta doce é envolvente, e de acordo com a proposta a ser alcançado com os alunos pode ser breve.  A produção musical e o envolvimento do aluno com o instrumento é uma interação corpo a corpo, como se fosse um desafio do aluno em produzir e se sentir produzindo. Esse contato com o instrumento musical é sem dúvida uma experiência inovadora para quem nunca teve a oportunidade de ter contato com a música de maneira tão próxima e real.

Embora a prática da flauta doce traga inúmeros benefícios que contribuem para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional do ser humano como foi falado anteriormente, percebe-se que são poucas escolas públicas que buscam este instrumento como ferramenta no auxilio da educação escolar. Infelizmente são poucas as escolas que a adotam esse instrumento como recurso na educação musical e aprendizagem do aluno.

A produção musical nas aulas de flauta doce é sempre uma descoberta surpreendente. Há alunos que apresenta indiferença ao instrumento, outro que participam, mas sem muito envolvimento e outros que se interessam tanto que não esperam o momento do contato com o instrumento orientado pelo professor e começam a produzir, ou seja, começam a tocar a partir da experimentação do som, ou aprendendo com os manuais que trazem músicas do folclore brasileiro e outros estilos que são conhecidas dos alunos como, por exemplo: parabéns pra você, asa branca, cai-cai balão, luar do sertão, entre outras, que fazem parte de um repertorio no encarte que acompanham a flauta doce na aquisição da mesma. Outros tiram músicas de ouvido, que para Beineke “(...) é também essencial que eles sejam incentivados a tocar de ouvido, tirando músicas que fazem parte de suas vivências cotidianas”. A autora ressalta a importância da exploração do instrumento nas canções tiradas de ouvido a partir da vivencia dos alunos, ou seja, as músicas que ele ouve regularmente, que fazem parte do seu contexto social, são as que mais lhe interessam produzir e socializar com os colegas.

Observa-se que a flauta doce nas mãos dos alunos faz com eles despertem para tocar e mostrar a sua produção musical, e o que é interessante “aprende” a partir da curiosidade e o mais interessante, sozinho! A partir daí, o aluno motiva o colega a tocar também, e passa a assumir o papel de colaborador interagindo com o outro, levando-o a socialização de conhecimento e aprendizado. E com isso cresce o interesse musical, recorre ao professor para mostrar o que conseguiu tocar, experimenta sons, e tira música de ouvido. Essas capacidades auditivas podem ser adquiridas e devem ser estimuladas no processo de educação musical, de forma que o aluno experimente, explore, se envolva chegando ao fazer musical.

Percebe-se nas salas de aula que antes, o aluno nem sabia que música podia ser aprendida na escola, que está no seu dia-a-dia, e muito menos que convive com ela. De repente, se depara com a música real, com códigos, símbolos, e ainda mais, com o instrumento flauta doce, que para ele é só um brinquedo, e num primeiro contato é novidade, e como tudo que é novidade assusta um pouco. Alguns alunos não se identificam com o instrumento, mas, com o passar dos dias nesse contato direto conseguem manusear, tocar, explorar e ainda mais, produzir sons que antes não havia “percebido” ao seu redor. Com isso vai descobrindo aos poucos que com a prática da flauta doce ele descobre um mundo novo, sonoro, cheio de surpresas no campo da música, fazendo com que se desenvolva como pessoa.

A prática de um instrumento musical para o individuo pode ser comparada à descoberta do próprio corpo, pois o contato físico com o instrumento pode expandir a relação da pessoa com a música estimulando o gosto pela mesma, desmistificando os tabus de que apenas os bem dotados conseguem tocar um instrumento. Nesse contexto é inserida a flauta doce estreitando o caminho da música com a prática e o fazer musical. E com isso, o aluno desenvolve, além da habilidade musical, a auto-estima, a criatividade e a comunicação. Sendo assim, pode-se dizer que o uso da música no espaço escolar se faz necessário ao desenvolvimento do aluno.

É também nesse espaço escolar que acontece a socialização e interação dos alunos, no contato direto com os colegas acontece à troca de saberes e mostra da aprendizagem prática, seja no intervalo do recreio, na entrada ou saída da escola enquanto aguardam seus responsáveis ou até mesmo enquanto esperam o colega que segue o mesmo percurso que o seu de volta pra casa. Enquanto o aluno está tocando ou socializando a sua prática musical, ele direciona seu pensamento apenas para esse fim evitando situações como “brincadeiras” desastrosas na escola. A música em qualquer contexto quando bem trabalhada desenvolve o raciocínio, criatividade e outros dons e aptidões, por isso, deve-se aproveitar esta tão rica atividade educacional dentro e fora da sala de aula. Pois a música torna-se uma fonte para transformar o ato de ensinar e de aprender em atitude prazerosa no cotidiano do professor (educador), e do aluno.

Segundo Damaceno “a prática pessoal de algum instrumento ou canto contribuem para o equilíbrio físico, emocional, e mental do individuo. Diante dessa afirmação pode-se dizer que a prática instrumental leva o individuo a ter sensações que elevam o sentimento, podendo chegar ao equilíbrio de suas emoções. Então porque não oportunizar o aluno a uma prática instrumental na escola? Segundo Mársico (1982, p.148) “[...] uma das tarefas primordiais da escola é assegurar a igualdade de chances, para que toda criança possa ter acesso à música e possa educar-se musicalmente, qualquer que seja o ambiente sócio-cultural de que provenha”. É uma afirmação que vem reforçar a importância da prática da flauta doce na escola, enfatizando a igualdade de chances, pois a educação tem como meta desenvolver em cada indivíduo todas as potencialidades de que é capaz.

Acredita-se que através da prática da flauta doce os alunos podem desenvolver uma atitude mais aflorada quanto ao conceito e a concepção da existência de cidadania como forma de valor social manifestado pelos hábitos e atitude em sala de aula. Acredita-se ainda que os alunos se sentem mais responsáveis quando solicitados à execução de tarefas com responsabilidades, podendo ser notado de imediato as modificações que podem ocorrer desde a aparência pessoal e, em especial na valorização da auto-estima, assim como, o elevado interesse em aprender o novo, a participar efetivamente do trabalho escolar, constituindo-se em um estado de euforia, em adquirir conhecimentos sobre a produção musical além do ministrado em sala.

O diagnóstico inicial do desconhecimento dos alunos sobre a linguagem musical perpassa pela total ignorância dos códigos da música, e até mesmo do próprio corpo como instrumento sonoro musical. Essa descoberta do corpo enquanto reprodução sonora muito interessa aos alunos, pois inicia uma exploração sonora pessoal de maneira descontraída, nessa atividade o aluno solicita o outro nesta descoberta, promovendo assim a socialização nas aulas.

O contato com a música em sala de aula pode se dá de forma gradativa, iniciando com observação de sons do ambiente (natural e mecânico), descobrindo o corpo e objetos existentes na sala de aula para a reprodução sonora, por exemplo, a voz, as mãos, dedos entre outros, o lápis, a caneta, borracha, carteira, cadeira, caderno etc. Pode ser realizada a execução de células rítmicas a partir de sílabas acentuadas da língua portuguesa (palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas) interagindo com o ritmo e envolvendo movimentos do corpo. Num segundo momento pode-se iniciar a apresentação da linguagem musical escrita (pauta, claves, notas, figuras etc.).

Em um terceiro momento pode-se observar o contato com a flauta doce, apresentando o instrumento e explorando-o gradativamente desde a sua estrutura física até a sonora, onde a sonoridade da flauta pode ser explorada livremente com criatividade. Pode-se utilizar movimentos do corpo para se expressar neste momento de descontração e improviso, com a flauta doce. Em seguida, pode-se orientar quanto às técnicas de execução da flauta doce como: posicionamento das mãos, dedos, embocadura (posicionamento dos lábios na flauta) postura corporal, respiração, sopro até alcançar à execução propriamente dita da flauta doce. Percebe-se a necessidade de estimular o aluno, desafiando-o a mostrar o seu potencial, e a prática da flauta doce é uma das chances do jovem se sentir produzindo.

Segundo Loureiro:

“São muitos os problemas pela área da educação musical. Dentre eles, consideramos o de maior importância a falta de sistematização do ensino de música nas escolas de ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como disciplina integrante no currículo escolar”. Loureiro (2003, p. 109)

Portanto, a educação musical na educação escolar vem para contribuir, somar no fator aprendizagem. Tanto que o ensino musical na escola é diferenciado, é realizado de forma mais informal, voltado para a realidade cultural e social do aluno envolvendo a sensibilidade, as emoções, a compreensão da linguagem musical, a socialização, e formação do individuo como pessoa.

(Gainza 1988 apud Chiarelli e Barreto), ressalta que:

“As atividades musicais na escola podem ter objetivos profiláticos, nos seguintes aspectos: Físico: oferecendo atividades capazes de promover o alívio de tensões devidas à instabilidade emocional e fadiga; Psíquico: promovendo processos de expressão, comunicação e descarga emocional através do estímulo musical e sonoro; Mental: proporcionando situações que possam contribuir para estimular e desenvolver o sentido da ordem, harmonia, organização e compreensão”. (Gainza 1988 apud Chiarelli e Barreto).

Pelo que foi exposto acima percebe-se que o aspecto físico trabalhado na música  com exercícios rítmicos, canções melodiosas e execução de peças descontraídas que exercem função relaxante sobre as tensões. Já no aspecto psíquico a contribuição da música se dá por meio de atividades rítmico-sonoras estimulando o individuo a reagir, se expressar ou descarregar suas emoções. E no aspecto mental a música também auxilia como estimulo, sendo de forma apaziguadora em diversas situações.

Para que ocorra a melhoria no desempenho escolar do aluno, vários fatores devem ser observados. A música entra nesse contexto como uma alavanca que deverá contribuir positivamente nesse processo.

A escola, enquanto espaço institucional para transmissão de conhecimentos socialmente construídos, para receber os alunos, tem também a responsabilidade de direcionar o educando, a buscar conhecimentos, socialização, e envolvimento com novas habilidades. É nesse contexto que entra a aplicação da música na escola que além de proporcionar ao aluno o contato com os aspectos particulares inerentes a própria música que são importantes na aprendizagem do mesmo, pode ser utilizada também como um poderoso instrumento para desenvolver a sensibilidade musical, despertando fatores relevantes como a concentração, memória, coordenação motora, socialização, acuidade auditiva e disciplina.

O aluno que aprende a desenvolver a concentração consegue prestar mais a atenção naquilo que lhe esta sendo ensinado, absorvendo com maior facilidade o conteúdo, ou seja, tem maior facilidade em aprender, se apropria de uma habilidade tão importante quanto, que é a memória. Segundo Fishman apud Bréscia (2003, p.60) afirmam que “[...] a música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades lingüísticas nas crianças”. O aluno concentrado na explicação do conteúdo abordado pelo professor certamente terá aguçada sua memória.

No aprendizado musical também usa-se a expressão corporal, são realizados movimentos corporais integrando som e ritmo, nessa atividade que trabalham a coordenação motora do aluno, esse exercício desenvolve um equilíbrio corporal harmonioso. Que também leva a socialização dos alunos.

A socialização é um fator relevante para o aprendizado, trata-se da relação do aluno com o outro. Segundo Faria (2001, p. 24), “A música como sempre esteve presente na vida dos seres humanos, ela também sempre está presente na escola para dar vida ao ambiente escolar e favorecer a socialização dos alunos, além de despertar neles o senso de criação e recreação”. O autor afirma que a música dentro da escola permite um ambiente mais vivo, mais acolhedor, pois envolve os alunos e com isso, promove a integração e a comunicação entre eles, favorecendo a socialização.

Sendo assim, pode-se dizer que o professor que se apodera da música na aprendizagem pode transformar a sua sala de aula em um lugar de convivência prazeroso e agradável. E com isso, a música favorece a socialização entre os alunos, pois permite uma verdadeira interação musical, em que eles conversam, trocam idéias, cantam, tocam e constroem melodias musicais juntos, ou seja, se comunicam entre si, construindo um momento de prazer e descontração.

Quando se trabalha a música com os alunos, desenvolve-se a acuidade auditiva dos mesmos, pois os aspectos sonoros são bem enfatizados. Os alunos cantam, ouvem canções, aprendem a prestar atenção na melodia, com suas nuanças, sons graves e agudos, intensidade, timbre etc. Com a continuidade desses exercícios o aluno passa a desenvolver uma audição mais aguçada, mais apurada, mais fina. Quando se fala em ouvir e entender música, Camargo (1999), diz que “existem três aspectos diferentes para o ato de ouvir música”, É normal se dizer que ouve música, mas segundo o autor pode-se ouvir, escutar e entender música. Diante dessas informações se faz necessário ressaltar cada um desses aspectos segundo mencionados pelo autor:

“- ouvir: perceber sons pelo ouvido (ato sensorial)”, ou seja, o som é percebido, mas sem interesse aparente, como por exemplo, o som de vozes de pessoas em um local livre, ou uma música tocando enquanto se faz compras, geralmente as pessoas não param para dar atenção a essa música, ouve-se, as vezes até cantarola, mas nada de importante. “- escutar: dar atenção ao que se ouve (ato de interesse)”, ou seja, ficar atento ao que lhe é explicado ou exposto. Geralmente no ato de escutar observa-se e presta-se atenção a uma conversa que é de interesse da pessoa, ou a uma orientação que se deve ser seguida. “- entender: tomar consciência do que se ouve”. Ou seja, absorver, tomar para si o que lhe é dito assimilar de fato o que está senso escutado. Nesse contexto pode ser mencionado o aluno em sala de aula observando as explicações do professor no discurso de alguma disciplina ou orientação.

O englobamento dos três aspectos de ouvir música chama-se de "percepção" musical. Segundo Duarte<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]--> “entende-se como percepção o processo através do qual o ser humano organiza e vivência informações, estas basicamente de origem sensória”. Segundo o autor a percepção acontece quando o individuo ouve, entende e compreende o que lhe é apresentado.

Além da percepção, para se aprender música de forma consistente a disciplina se faz necessária nessa aprendizagem, pois para alcançar um resultado favorável o aluno deve ter consciência que só conseguirá aprender se tiver disciplina nos exercícios, pontualidade, participação ativa, compromisso e etc. De acordo com (Tusler 1991 apud Bréscia) diz que “por meio da música a criança se autodisciplina, pode expressar-se, sentir-se aceita, comunicar-se mais profundamente com seus colegas”. A autora afirma que a disciplina torna-se algo consciente e permanente para o aluno, pois aprende que somente dessa forma é possível aprender e interagir com respeito com os colegas de sala e demais convivência.

O aluno que tem disciplina possui facilidade de se apropriar dos fatores da concentração, memória, coordenação motora, socialização e acuidade auditiva no desenvolvimento do senso musical. Pois o aluno vai levar consigo essa disciplina para as demais atividades, que vai orientar seu comportamento na comunidade escolar. E se a escola orienta o aluno quanto a disciplina de maneira descontraída, por exemplo, através da música, o aluno passa a ter disciplina, até de maneira inconsciente, ele pratica a disciplina sem a necessidade de conceituá-la.

Muitas vezes o aluno vai para a escola sem vontade, às vezes obrigados pelos pais ou familiares, outras vezes para preencher o tempo ou até mesmo só para encontrar os colegas. Percebe-se que o ambiente escolar não cativa o aluno a ponto de despertar nele o interesse de estar na escola. Nesse sentido, a educação musical a partir da prática da flauta doce proporciona a motivação necessária para despertar o interesse e o desejo do aluno em estar na escola.

A música no contexto escolar tem a faculdade de contribuir de forma positiva para um ambiente saudável, agradável, estimulante, prazeroso e que favoreça a aprendizagem do aluno. Isso faz com que a falta de vontade do aluno e o esforço de ir a escola seja compensado com a inserção de um elemento que não só é cativante como importante para a aprendizagem total do mesmo. Enfim, a música é um instrumento facilitador do processo de ensino aprendizagem, portanto deve ser possibilitado e incentivado o seu uso em sala de aula. Tocar um instrumento, seja solo ou em conjunto, desenvolve no indivíduo sua autonomia, senso de cooperação e sentido de responsabilidade. A prática musical desenvolve naturalmente uma atitude de valorização da vida, da família, e da comunidade.

Para concluir a importância da prática da flauta doce no ambiente escolar assim como a relevância de sua aplicabilidade em outros ambientes de aprendizagem como: grupos sociais, em comunidades, na igreja, associações, etc. na busca de contribuir ao desenvolvimento total do indivíduo, será apresentado o conto denominado “O flautista de Hamelin”, que é uma narração interessante, que retrata a importância do som da flauta e o fascínio e o encanto que o som produz nas pessoas.

Esse conto foi escrito pelos irmãos Grimm, que relata um fato ocorrido na cidade de Hamelin na Alemanha em 26 de junho de 1284. Esse conto faz uma alusão ao efeito do som da flauta sobre os ratos e as crianças da cidade de Hamelin.

Uma cidade chamada Hamelin estava infestada de ratos, o prefeito e os moradores da cidade estavam desesperados com o acontecimento, então resolveram buscar soluções para resolver o problema que era a infestação dos ratos, então surgiu um homem com uma flauta e disse que acabaria com os ratos se fosse pago pelo serviço, o trato foi feito.

No dia seguinte quando amanheceu começou a andar pelas ruas e, enquanto passeava, tocava com sua flauta uma melodia maravilhosa, que encantava aos ratos, que iam saindo de seus esconderijos e seguiam hipnotizados os passos do flautista que tocava incessantemente, e com isso levou os ratos a um lugar muito distante, tanto que nem sequer se poderia ver as muralhas da cidade. Por aquele lugar passava um rio e, os ratos ao tentando acompanharem o flautista na travessia do rio, morreram afogados.  E para a surpresa da população, os ratos sumiram da cidade. Com isso a vida da cidade voltou ao normal.

No outro dia, o flautista retornou a cidade de Hamelin para receber o seu pagamento no qual haviam acordado entre eles, e qual foi a sua surpresa? O prefeito e seus subordinados não quiseram pagar o flautista, expulsando-o e dando-lhes a costa. O flautista revoltado por ter sido enganado pelos moradores da cidade, no dia seguinte tocou uma doce melodia várias vezes, insistentemente, mas, só que dessa vez não eram os ratos que o seguiam, e sim as crianças da cidade que, arrebatadas por aquele som maravilhoso, não escutavam as vozes dos pais suplicando para que voltassem para casa.iam atrás dos passos do estranho músico que os levou para longe, muito longe, tão longe que ninguém poderia supor onde, e as crianças, como os ratos, nunca mais voltaram. A cidade ficou triste e, por mais que se procure não se encontra nem um rato e nem uma criança. Nessa história a melodia produzida pela flauta foi utilizada para encantar tanto os ratos como as crianças. É um pequeno conto que relata com propriedade o grande fascínio produzido pelo som da flauta.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

BEINEKE, Viviane. (2001) Funções e significados das práticas musicais na escola. Belo Horizonte: Presença Pedagógica, vol.7, nº40.

BEINEKE, Viviane. (1997) A educação musical e a aula de instrumento: uma visão crítica sobre o ensino da flauta doce. Santa Maria. Expressão, ano 1, n.1/2, p. 25-32.

DAMACENO, Ana Maria N. Gorski. A Música e Seus Efeitos no Indivíduo 

GAINZA, V. Hemsy de.  (1988) Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Summus.

___________________________________________________________________________Susie Barreto da Silva. Licenciatura Plena em Educação Artística - Habilitação em música (UEPa) - Especialização em Educação Musical (CBM), Mestrado em Educação(UCA).  Doutorado em ciências da educação (UAA) – em andamento.
susiesilva@ig.com.br

Rosicléia Lopes Rodrigues Mendes. Licenciatura Plena em Educação Artística – Habilitação em Música (UEPa)- Especialização em Informática na Educação (PUC-MG)– Mestrado em Educação(UCA).  Doutorado em ciências da educação (UAA) – em andamento.
rcleia@hotmail.com